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Mensagem do Prior na Festa de Santa Joana Princesa

12 Maio 2021

Joana de Portugal, filha de Dom Afonso V e de Dona Isabel, nasceu no dia 6 de Fevereiro de 1452 em Lisboa e morreu no dia 12 de maio de 1490. Nasceu para ser princesa, para ser uma pessoa importante num momento em que Portugal, com as conquistas em África e o início das descobertas marítimas, estava a crescer e a tornar-se um aliado decisivo para tantos reinos europeus.

Filha de reis, durante três anos foi proclamada princesa e herdeira do reino, pois era a única filha dos reis de Portugal. Até que em 1455, no dia 3 de Maio, nasceu o irmão que passou a ser o herdeiro. Contudo nunca perdeu o título de princesa. Se não por ser herdeira, por ter conquistado os corações dos portugueses. O que a fez ganhar estes corações não foi o ser bonita, que parece que o era e muito; nem o facto de ser muito inteligente, que também consta que o fosse, com grande cultura e capacidade de liderar. O que conquistou os corações do povo português foi a sua amizade com Jesus, a sua vontade decidida de se consagrar totalmente a Jesus e a caridade que dessa consagração imanava no serviço dos pobres e dos que precisavam. Uma vida que se realizava na oração, mas que se espelhava quer na vida comunitária no Mosteiro de Jesus em Aveiro, para onde entra em 1472, quer no cuidado dos pobres dessa cidade, mas não podemos esquecer o testemunho que já dava em Lisboa, quer na corte quer junto dos pobres, onde viveu até aos 20 anos.

Aqui viveu rodeada de luxo, mas não se gastou com os luxos deste mundo. A sua paixão era a Paixão de Jesus Cristo, ou melhor, era Jesus Cristo que morreu para nos salvar. Candidata a casar-se com reis e condes, ela, desde cedo mostrou que na sua vida não havia rei humano que mandasse, nem sequer o rei seu irmão, preferiu sempre o Rei dos reis, Jesus Cristo. Fez pintar a Coroa de espinhos nas suas armas, para que se soubesse a quem tinha dado o coração. Daqui nasceu um estilo de vida que não escapava a um povo que, apesar de precisar de pão para comer, sabia que esse era mais fruto da providência do que da destreza humana dos governantes e, por isso, sabia que para lhes dar o pão da terra precisava de governantes humildes que soubessem precisar do Pão do Céu. O que eles viam nela era que a sua relação com Cristo a tornava eficaz em tudo, quando teve de ser regente do reino ou quando se tornou senhora da cidade de Aveiro tornou-se evidente como se pode governar sem se perder nem perder de vista o bem dos governados. Será esta Joana exemplo para hoje? Creio bem de sim. E como! Como jovem lisboeta, ela viveu numa cidade em transformação, a ficar mais rica e com novas construções... mas ela soube dar alma às relações de amizade que teve. As outras jovens da corte e mesmo os adultos que a aconselhavam conseguiram ver bem a alegria que esta forma de viver gerava. O segredo era saber estar onde estava como devia estar, mas sem nunca deixar de ter o coração onde devia estar. Assim, conta-se que na corte, em momentos solenes se vestia muito bem, como obrigava a sua condição, mas por baixo das roupas belas tinha uns trapos para que sentisse sempre tocar a cruz de Cristo e assim nunca se perdesse nas ilusões deste mundo.

Não valeria a pena também hoje propor aos jovens de Lisboa viverem assim? Sem conflitos externos desnecessários, empenhados na vida e a procurar cuidar das relações humanas e do que for preciso tratar deste mundo, para fazer crescer e melhorar as condições de vida de todos, mas pensando bem no que é necessário fazer para que no segredo de cada jovem nunca fique esquecido esse outro Reino, esse Rei que tem uma coroa de espinhos, mas é Rei dos reis: Jesus Cristo. Santa Joana é uma santa para os nossos tempos, também eles de grandes transformações e também eles marcados por um cuidado das aparências tantas vezes estéril. Um tempo em que não basta cuidar da vida da terra e onde se torna claro que sem um cuidado com a vida espiritual não nascem relações estáveis, não surgem obras de caridade e de educação que tenham em vista o bem dos outros.

Santa Joana é uma santa que os jovens de Lisboa não conhecem bem e que uma certa hagiografia pintou demasiado distante da realidade, mas, lendo bem as fontes, torna-se claro que era uma mulher forte, inteligente e decidida. Longe de ser uma pessoa que se deixava manipular, soube sempre levar a sua vontade por diante, porque, no fundo, o que ela queria mesmo era seguir a vontade de Deus. Esta sua certeza fê-la enfrentar o pai, D. Afonso VI, que não a queria num convento, mas que se deixou convencer por ver nela uma felicidade ímpar, e o irmão, D. João II, que a queria casada com algum príncipe europeu importante. Não se pense que só agora é que as mulheres têm força. Esta santa mostra que desde sempre as mulheres santas foram mulheres fortes.

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